Faina de abastecimento de combustível! Conheça dicas e ações em casos de emergência.
- Bruno Conceição da Silva
- 3 de jun. de 2020
- 5 min de leitura

É sempre bom falar de abastecimento em embarcações, pois trata-se de uma atividade necessária e que faz parte da rotina do nosso trabalho a bordo.
Esta faina é altamente perigosa, devido a riscos ambientais, perigos de incêndio, desperdícios e até mesmo riscos com a saúde por conta de contato involuntário com pele e olhos, além de inalação ou ingestão.
Na faina de abastecimento, todos os colaboradores precisam estar preparados, isso inclui conhecer a Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navios (MARPOL) e estar familiarizados com os procedimentos internos do armador (Empresa dona da embarcação) ou da contratante que afreta o Navio, como por exemplo, a Petrobras.
A embarcação e o fornecedor (caminhão tanque, instalação portuária ou barcaça de óleo) precisam estar habilitados e cumprindo todas as exigências para atender a operação, com extintores inspecionados, kits antipoluição (SOPEP) completos e bem disponibilizados, e demais acessórios e equipamentos que fazem parte da operação em perfeitas condições de uso, tais como magotes, conexões, bandejas de contenção, barreiras, entre outros. Tudo isso deve ser verificado de forma prévia a operação.

Eu costumo separar 03 pontos principais nesta operação:
01- Sinalização e identificação: Quando temos tanques, válvulas, redes, bandejas de contenção, elipses e suspiros bem sinalizados e identificados em nossas embarcalções, a atividade fica otimizada, além de aumentar a segurança e a nossa própria tranquilidade durante a operação. A sinalização na hora da faina também é importante e colabora com o sucesso da operação, como exemplo, sinalizar bem o isolamento da área, exibir os avisos de "proibido uso de celular", "proibido fumar" de modo eficiente, hastear bandeira bravo ou ascender a luz encarnada (requisito legal), entre outras informações visuais.
02 - Rotinas de controle: São primordiais nesse processo, pois abrange a realização de Análises de Segurança da Tarefa, listas de verificações ou check lists, briefing de segurança com todos os envolvidos, e após a faina os registros no Livro de óleo (Requisito Legal Marpol 73/78), entre outras verificações de acordo com os procedimentos internos de cada empresa. O cumprimento das rotinas de controle é um dos pontos mais importantes para o sucesso da operação, eu lembro que quando abastecia no porto da Petrobrás (CPVV) em Vitória-ES, o abastecimento inclusive era interrompido para execução de rotinas de controle, normalmente quando chegava em 50% o abastecimento, a operação era interrompida para verificações de sondagens e demais procedimentos de controle.
03 - Distribuição de funções: Definir com a tripulação e com todos os envolvidos a função de cada um durante a operação é outro ponto fundamental e essencial, o Comandante normalmente coordena toda a faina e é a peça chave de comunicação para qualquer acontecimento ou procedimento. Todas as funções precisam ser bem definidas e direcionadas, tais como a vistoria de todos os equipamentos envolvidos na operação, o monitoramento dos suspiros e conexões, a verificação da água ao redor, o acompanhamento do nível dos tanques através de sondagens, a manobra de válvulas, entre outras tarefas definidas em procedimentos operacionais.

5 dicas interessantes para essa faina!
Quando houver abastecimento após a troca de turma, verifique tudo com antecedência! Se alguma coisa ficar de fora da passagem de serviço, você corre o risco de receber a embarcação com algum equipamento ausente ou em manutenção, como exemplo oleômetros descalibrados, válvulas invertidas, emperradas ou danificadas, sensores de nível inoperantes, conexões avariadas, redes flangeadas, tanques contaminados, acessórios ausentes, identificações alteradas, entre outras adversidades.
Comece o abastecimento na vazão mínima da bomba ou até mesmo recebendo na gravidade. Caso haja algum problema no percurso do combustível até o tanque, as conexões correm risco de rompimento devido a alta pressão, e começar o abastecimento no "miniminho", ajuda a detectar e resolver qualquer problema relacionado no início do abastecimento, e sem alto risco. Nos tanques de combustível em embarcações, existe a válvula S.O.S de fechamento rápido, que são disparadas remotamente, e essa válvula pode ter sido acionada devido a algum problema ou por acidente (involuntário), ocasionando o trancamento do tanque que você irá receber o fluido.
Não ultrapasse 80% da capacidade dos tanques. Em muitas empresas já é regra não ultrapassar a capacidade de 80% ou 85% dos tanques, para evitar um possível transbordo do mesmo. Em embarcações pode haver muitas adversidades, tais como balanços, que pode fazer os tanques de óleo combustível "golfar" pelos suspiros, além de problemas em tanques overflow, então é melhor evitar dor de cabeça e manter o seu combustível bem tranquilo nos tanques.
Em muitas embarcações, temos muitos recursos para nos auxiliar no sistema de óleo combustível, como sensores de nível, visores de nível, sensores de pressão que apresentam o nível em tempo real em sistemas supervisórios, e diversos outros recursos, mas nada disso adianta se estiver avariado. Verifique, teste e inspecione sempre seus recursos dos sistemas de combustível, principalmente antes de uma faina de abastecimento, para não ficar na "mão"!
A quinta dica é menos técnica, mas não menos importante. Trata-se de lidar com o nosso comportamento. Em fainas de abastecimento de combustível, a responsabilidade é enorme, um erro pode causar um acidente ambiental e podemos até ser responsabilizados em tribunais marítimos, então modere a sua autoconfiança, aceite analisar opiniões e dicas mesmo sendo o Chefe de Máquinas ou Comandante, verifique quantas vezes achar necessário as condições de tudo e as manobras de válvulas, não faça a faina na "correria", e o principal, concentre-se na atividade, nunca faça outra coisa no mesmo momento de um abastecimento de combustível, o foco nessa faina é a ação fundamental para evitar qualquer tipo de adversidade.
AÇÕES EM CASO DE EMERGÊNCIA (informações contidas na Ficha de informação de segurança de produtos químicos - FISPQ do Óleo Diesel Marítimo)

Medidas de primeiros socorros
a) Inalação: Remover a vítima para local arejado. Se a vítima não estiver respirando, aplicar respiração artificial. Se a vítima estiver respirando, mas com dificuldade, administrar oxigênio a uma vazão de 10 a 15 litros / minuto. Procurar assistência médica imediatamente, levando a Ficha de Informação de Segurança de Produto Químico (FISPQ), sempre que possível.
b) Contato com a pele: Retirar imediatamente roupas e sapatos contaminados. Lavar a pele com água em abundância, por pelo menos 20 minutos, preferencialmente sob chuveiro de emergência. Procurar assistência médica imediatamente, levando Ficha de Informação de Segurança de Produto Químico (FISPQ), sempre que possível.
c) Contato com os olhos: Lavar os olhos com água em abundância, por pelo menos 20 minutos, mantendo as pálpebras separadas. Usar de preferência um lavador de olhos da embarcação (se houver). Procurar assistência médica imediatamente, levando a Ficha de Informação de Segurança de Produto Químico (FISPQ), sempre que possível.
d) Ingestão: Não provocar vômito. Se a vítima estiver consciente, lavar a sua boca com água limpa em abundância e fazê-la ingerir água. Procurar assistência médica imediatamente, levando a Ficha de Informação de Segurança de Produto Químico (FISPQ), sempre que possível.

Medidas de combate a incêndio
a) Meios de extinção apropriados: Espuma para hidrocarbonetos, pó químico e dióxido de carbono (CO2)
b) Resfriar tanques expostos ao fogo com água, assegurando que a água não espalhe o diesel para áreas maiores. Remover os recipientes da área de fogo, se isto puder ser feito sem risco. Assegurar que há sempre um caminho para escape do fogo.
c) Esteja familiarizado com o plano de segurança da embarcação, conheça os postos de incêndio e rotas de fuga.
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